Finalmente comi o tão esperado bacalhau norueguês, gente!
Depois de quase 4 meses na terra do Bacalhau, finalmente degustei o tão apreciado peixe pelos brasileiros e não tão valorizado aqui na Noruega, devido a grande quantidade encontrada por aqui.
Seria o equivalente ao Lambari ou a Tilápia no Brasil.
Mas infelizmente não superou minhas expectativas. Explico o porque:
Quando meu pai disse que iríamos ao supermercado comprar bacalhau, logo imaginei ver o peixe inteiro, repousando em uma cama de gelo, bonito, brilhante, suculento. Só imaginei.
O peixe veio congelado, cortado em postas, em uma embalagem plástica nem um pouco apetitosa.
Chegando em casa, vamos a preparação do prato. Em vez da tradicional bacalhoada (que por aqui eles chamam de Bacalao), com batatas, pimentões, azeitonas, azeite e tudo mais, o prato que comemos foi Lutfisk.
Trata-se de um processo em que o peixe é submetido a várias imersões em água fria durante vários dias e, pasmem, SODA CÁUSTICA.
O primeiro tratamento é submergir o peixe em água fria durante cinco a seis dias, mudando-a diariamente. O peixe saturado é então submerso numa solução de água fria e soda cáustica por mais dois dias, sem que seja mudado este líquido. O peixe cresce durante esta imersão, ganhando um tamanho superior ao do peixe original fresco. Porém, o peixe perde suas proteínas, ficando com o nível menor de menor de 50%, causando a sua famosa consistência gelatinosa. Quando termina este tratamento, o peixe, saturado com soda cáustica, adquiriu um pH de 11-12, sendo, por isso, corrosivo. Para tornar-se comestível é necessário um último tratamento, que consiste em deixá-lo mais quatro a seis dias imerso em água fria, mudada diariamente.
Ou seja, o peixe que meu pai tinha comprado no supermercado já era especialmente para o preparo de Lutfisk.
O peixe tem uma terrível consistência gelatinosa, bem parecido com um pudim e um estranho gosto de limpeza. É mais ou menos como se o peixe fosse fervido no detergente.
Mas o Lutfisk é extremamente popular e tradicional aqui. Especialmente na época de Natal.
As origens do lutfisk não são consensuais. Algumas descrições descrevem um peixe deixado cair acidentalmente num alguidar contendo soda cáustica, tendo, devido à pobreza da família, o peixe ter sido que ser comido. Outras histórias indicam fogos de diversos tipos, uma vez que as cinzas combinadas com a água criam soda cáustica. Um cenário possível é que os troncos de secagem do peixe possam ter-se incendiado, tendo-se seguido dias de chuva. Como o peixe seria demasiado valioso para deitar fora, mesmo nestas condições, poderia ter sido recolhido das cinzas, limpo, preparado e depois comido. Porém, o uso de soda caustica para amolecer a comida é uma prática comum com diversos tipos de alimentos, por isso talvez não tenha sido acidental neste caso.
A tradição lendária defende que o lutfisk teve origem durante as pilhagens viquingues da Irlanda, quando São Patrício ordenou que fosse despejada soda cáustica sobre o peixe seco dos barcos viquingues, na esperança de envenenar os invasores. Porém, em vez de morrerem envenenados, declararam o lutfisk uma iguaria.
Alguns descendentes norte-americanos de escandinavos afirmam que a sua força e longevidade se devem a consumirem lutfisk pelo menos uma vez por ano.
Algumas informações sobre o Lutfisk:
Em Norueguês Lut significa soda cáustica e fisk significa peixe, logo Lutfisk = Peixe de soda cáustica
Em 2004, a Noruega consumiu mais de 2600 toneladas de lutfisk, sendo a maior parte confeccionada com bacalhau. O lutfisk preparado em casa é maioritariamente feito com peixe fresco, mas, por vezes, é utilizado também peixe congelado. As famílias norueguesas gastaram, em 2004, 93 milhões de coroas em lutfisk. Novembro e Dezembro são os meses em que os noruegueses consomem mais lutfisk, mas também é consumido, ainda que em menor quantidade, em Outubro e Janeiro. Nos meses de Verão, praticamente não é consumido. Num inquérito realizado no ano 2000, 8 em cada 10 dos inquiridos respondeu que já tinha comido lutfisk nesse ano. A idade de início de consumo do lutfisk aumentou de 7 em cada 10 antes de completarem os quinze anos de idade, em 1995, para apenas 6 em cada 10, em 1999. Acredita-se que, quem prove o lutfisk muito cedo, tendencialmente não o venha a comer quando for mais velho. Uma idade mais elevada para o início do consumo é considerada positiva para a manutenção da tradição do lutfisk no país.
Quem mais consome lutfisk na Noruega são pessoas com as seguintes características:
- Mais de 45 anos de idade
- Habitantes de Nord-Trøndelag, Sør-Trøndelag e do norte da Noruega
- Rendimentos médios
- Educação superior
É de salientar que, ao contrário do que acontecia no passado, os homens já não estão em maioria em relação às mulheres, no que diz respeito ao consumo geral do lutfisk.
O consumidor típico de lutfisk em restaurante possui as seguintes características:
- Sexo masculino
- Entre os 30 e os 59 anos de idade, em especial entre os 45 e os 59
- Educação superior e rendimentos elevados
- Habitante de Oslo ou Akershus